Com o DaVinci Resolve aberto na aba de color, eu selecionei aqui dois clipes pra começarmos a experimentar as primeiras ferramentas na etapa de correção de cor.
Uma diária, num café da manhã.
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E uma imagem noturna, dentro de um quarto. Para experimentarmos as ferramentas com dois contextos diferentes de iluminação.
Antes de começar o tratamento, nós precisamos fazer o gerenciamento de cores, que pra esse exemplo eu vou realizar pelas configurações do projeto.
Correção de Cores o que é realmente?
Essas cenas foram capturadas com uma câmera RED, em formato RAW. O formato RAW, se feito um paralelo com a película, é como se fosse o filme não revelado. Então o que nós estamos fazendo nesse processo é a “revelação do filme”, mas de forma digital.
Os arquivos em RAW são perceptivelmente bem sem contraste e sem saturação. O que nós estamos vendo é a imagem que o sensor da câmera registrou, com toda sua capacidade..
É a totalidade das informações que o sensor conseguiu capturar, sem nenhuma transformação até esse momento. Na prática o resultado é essa imagem “flat”, que nos oferece o maior potencial pra realização do tratamento de cor..
Pra isso ficar mais claro vamos analisar o diagrama de cores, que pode ser acessado pelos Scopes.
Nesse diagrama abaixo, o que está sendo representado dentro do “semi-círculo” é o espaço de cores possíveis dentro do espectro visível.
Para melhor visualização, vamos analisar uma representação colorida desse mesmo gráfico:
Essa área colorida compreende as cores que nosso olho tem capacidade de enxergar, nas devidas proporções. A curva no meio representa a temperatura.
Perceba como ela sai da tonalidade azul e vai até o laranja, passando pelo ponto neutro no centro, que é o branco. Olhando para esse gráfico percebe-se que o verde é a cor mais predominante, e por consequência é a cor que o nosso olho dá conta de enxergar melhor.
Para entender melhor o motivo dessas proporções assista o vídeo abaixo, no qual eu falo sobre a eficiência luminosa do olho humano.
Reproduzir Vídeo Sobre teoria-das-cores-davinci-resolve-tutoriais
Voltando agora pro DaVinci Resolve, vemos que dentro desse espaço temos um triângulo com o nome Rec.709. Esse espaço é a delimitação do padrão da indústria para as cores que os monitores conseguem exibir.
Então no seu celular, na televisão, no computador, todas as cores que os monitores dão conta de representar estão dentro do espaço de cor Rec.709. Então, o espaço de cores que o olho humano enxerga é muito maior do que os monitores são capazes de exibir, mas só com esse espaço já conseguimos enxergar todas as cores.
Agora pra entendermos o que está acontecendo no processo de gerenciamento, vamos trazer a representação do espaço de cores que a RED capturou quando a cena estava sendo gravada, adicionando o GAMUT (Gamut = Espaço de cor) REDWideGamutRGB.
Percebe-se que o espaço de cores que a câmera deu conta de capturar é bem maior que o Rec.709, chega a ser maior que o próprio diagrama. Então o que o gerenciamento de cores faz é transformar o espaço de cores que a câmera RED capturou para o Rec.709, que é a capacidade máxima dos monitores, o padrão da indústria.
Como fazer isso?
Na aba Color do Davinci, na parte inferior esquerda, clique na engrenagem. Acesse a aba Color Management. Na opção Color Science é possível ver algumas opções de ciência de cores:
DaVinci YRGB Color Managed, que é o gerenciamento de cores do próprio programa, e temos o ACEScct (Academy Coloring Encoding Sistem), que é o sistema de gerenciamento da Academia de Cinema. Ambos funcionam bem, cada um tem as suas particularidades, porém eu gosto da maneira como as ferramentas respondem com o gerenciamento em ACEScct.
Ao selecionar ACEScct, o programa vai te dar algumas opções:
A versão de Aces a ser utilizada: selecione sempre a última. (No momento em que estou escrevendo esse artigo a opção é “ACES 1.1”).
O input a ser utilizado: nesse caso RWG/LOG3G10.
O output: REC 709.
O INPUT e o OUTPUT dizem sobre qual o espaço de cores que está entrando e qual espaço de cores você quer que saia. No INPUT você vai selecionar de acordo o tipo e a configuração da câmera que foi utilizada na gravação da cena. E o OUTPUT vamos selecionar o espaço de cores que pretendemos entregar, nesse caso Rec.709, que é o padrão que os monitores conseguem mostrar.
Por último, habilite a opção USE COLOR SPACE AWARE GRADING TOOLS, assim as ferramentas vão se adaptar ao espaço de cores que estamos utilizando. O restante das opções se mantém. Clique em SAVE.
Logo perceberemos a diferença na imagem. Temos uma imagem que saiu do espaço REDWideGamutRGB, o original da câmera, e veio para o espaço de cores Rec.709, que é o que o monitor consegue exibir.
A imagem noturna ficou bem escura, mas como essa câmera é super potente e tem um sensor bastante sensível, vamos conseguir recuperar a luminosidade com facilidade.
Começando pela cena diurna, a primeira coisa que quero fazer é ajustar a exposição e o contraste. Para isso, vamos na aba de Primarie Wheels, as primárias do DaVinci Resolve.
Ela vem dividida em 4 partes: LIFT, GAMA, GAIN E OFFSET.
O LIFT são as partes baixas do sinal. As baixas luzes, as sombras. Repare na movimentação dos scopes ao se aumentar ou diminuir o controle de exposição do LIFT. Quando se aumenta, os scopes aumentam a partir da parte de baixo do gráfico RGB Parade.
O GAMMA são as luzes médias, mexendo nele o sinal se movimenta a partir da metade do gráfico.
O GAIN são as altas luzes, que vão puxar o sinal pelo topo, a partir das áreas mais claras
E o OFFSET possui influência em toda a imagem, puxando o sinal pra cima ou pra baixo como um todo.
O GAIN são as altas luzes, que vão puxar o sinal pelo topo, a partir das áreas mais claras.
Pra ajustar essa exposição eu vou começar pelo offset, que vai trazer o sinal como um todo pra cima, até chegar no ponto que eu acredito ser o ponto correto da imagem.
Eu sempre passo um pouco no offset, pois quando eu for corrigir as sombras essa luminosidade vai ficar compensada. Depois diminuo um pouco o lift até o sinal chegar próximo do 0. E pra compensar eu vou no gain e aumento um pouco. Esses ajustes estão acontecendo no primeiro node, que vai ser nosso node de contraste. A imagem e os gráficos ficaram assim:
O segundo node será de balanço de branco e saturação (pra criar um novo node você clica com o botão direito no último node > add node > add serial.
Ou usa o atalho ALT+S). Olhando pelos scopes e também pela imagem, dá pra perceber que ela está bem quente. Percebe-se que o canal azul está baixo, seguido do verde, e o vermelho que está mais alto que todos. Pra resolver isso tem algumas maneiras.
Aqui vou apresentar como você opera através da temperatura e do tint. A temperatura é o eixo entre o azul e o laranja, e o tint o eixo entre o verde e o magenta.
Nesse caso pra compensar o tom quente vamos levar a temperatura pro lado frio. Conforme vamos levando, percebe-se que o sinal vai se equilibrando nos scopes.
E conforme as cores vão se alinhando, a fidelidade dos tons vai aparecendo na imagem. Conseguimos ver o verde melhor, as cores da pele melhor, a roupa. Uma outra consequência comum desse ajuste é que, conforme acertamos um desvio de temperatura, passamos a percebemos que a imagem
começa a parecer menos saturada. Podemos compensar isso aumentando um pouco a saturação. Ao aumentar a saturação percebi que a imagem continuava quente, então esfriei um pouco mais a temperatura. Também notei que estava um pouco puxada pro verde, então fui no tint e levei um pouco pro magenta. E aqui está o antes e o depois:
Estava tudo bem quente, como se tivesse uma película laranja, e quando acertamos a temperatura as cores se separam, ficando mais nítido, com as tonalidades mais presentes.
O próximo e último node que eu vou utilizar para essa correção vai ser o node para centralizar a atenção naquilo que é o ponto de interesse do plano. Nesse caso, a menina. Vou chamar esse node de w1 (window 1 = janela 1). Pra dar o nome ao node, você clica com o botão direito em cima do node e seleciona NODE LABEL e dá o nome desejado.
O atalho dessa opção no teclado geralmente não vem nas configurações do DaVinci. Pra atribuir um atalho você vai em DaVinci Resolve, no canto esquerdo superior da tela, seleciona a opção KEYBOARD CUSTOMIZATION, procura na lupa de pesquisa por LABEL para encontrar a opção “Node Label”, clique ao lado no espaço para designar o atalho e pressione a tecla ou comando que deseja atribuir como atalho. Eu selecionei a tecla TAB pois ela não tem função no programa.
Para centralizar a atenção no ponto de interesse vou utilizar a ferramenta de Power Window. Utilizando uma janela redonda, vou encaixar em cima da menina. Uma Power Window faz com que os ajustes feitos aconteçam apenas dentro dessa janela.
Pra uma janela funcionar bem, é necessário aumentar a difusão dela, expandindo o círculo externo.
Utilizando o atalho SHIT+H, ou clicando no ícone de varinha mágica você consegue ver o que a máscara está afetando. Expandindo essa difusão, o resultado é mais orgânico, caso contrário a gradação da área afetada pelo ajuste fica dura.
Eu vou em GAIN e aumento a exposição um pouco até chegar no ponto desejado.
E como a câmera se movimenta, vamos trackear essa janela. Para isso vamos na aba de tracking. Vou começar o tracking no final do vídeo, onde ela está melhor enquadrada. Vou habilitar somente o PAN e o TILT e vou pedir para o DaVinci trackear para trás.
Vamos analisar o resultado que atingimos:
A última coisa que eu vou fazer nesse plano para melhorar a imagem é ajustar o ruído digital. Pra isso vou criar um node antes de todos, para que os efeitos seguintes aconteçam sobre a imagem já limpa de ruídos. Para criar um node pra trás eu aperto o atalho SHIFT+S.
Adicionei uma análise a cada 3 frames e subi o Luma e o Chroma até 4.8 no temporal threshold. Até 5 costuma ser o suficiente. Para aproximar a imagem, utiliza-se a barra de rolagem do mouse. Também é possível clicar e segurar a barra de rolagem para movimentar a janela como preferir.
Agora vamos ajustar a imagem noturna seguindo as mesmas diretrizes.
Vamos adicionar o primeiro node para redução de ruído. O segundo node para acertar o contraste. O terceiro node para white balance e saturação. E o último node para criar a janela.
Vamos iniciar pelo contraste. Para isso vamos novamente abrir a aba de primárias e aumentar o OFFSET, passando um pouco para ajustar nas sombras. Fiz esse ajuste utilizando o frame onde a luz do notebook incide sobre as atrizes.
Em seguida vamos diminuir o LIFT, até as sombras chegarem em uma região mais próxima do 0 no gráfico RGB Parade. Percebe-se que analisando a temperatura nesse plano, novamente, temos o canal azul mais baixo, e conforme vai para o vermelho, ele vai aumentando. Então no node de balanço de branco (white balance), vamos novamente trazer a temperatura pra uma região mais fria no controle temp.
Somente com esse ajuste já é perceptível uma separação de cores mais interessante. Percebemos que a parede ficou com uma tonalidade mais azulada, e ficou em contraste com a luz quente que está incidindo nas atrizes. Como a cena ainda está bem escura, vamos criar uma janela em cima das atrizes, respeitando a direção da luz que estava acontecendo na cena, que é a luz vindo do abajur.
Novamente, vou trabalhar com o GAIN, ajustando as altas. Observando a imagem, senti que ela ficou toda muito clara novamente. Então volto no primeiro node, o de contraste, e vou diminuir um pouco mais as baixas, o LIFT. Agora sim, temos uma imagem que aparenta ser mais noturna sem perder as informações do rosto das atrizes.
Quando aproximamos a imagem, como ela está bem subexposta, percebemos bastante ruído. Então vamos no node de ruído, abro as ferramentas de redução de ruído, adiciono a análise para cada 3 frames, e levo o LUMA e o CHROMA até 5 no temporal threshold.
E esses são os primeiros passos pra iniciarmos um tratamento de cor, começando pela etapa de correção da imagem bruta que chega pra gente.
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